24 de fev. de 2013


O homem que alcança o seu próprio caminho é na verdade o homem que encontrou o caminho mais comum. Não há destaques nele. Seu pressuposto passa a ser a vida mesma, e não uma aventura destacada em conveniências. Esse mundo advoga muita coisa meramente conveniente como necessária. Assim, a insanidade pode ser elevada ao patamar de “uma boa causa”. A existência de defensores e mártires das tais “causas” mostra seu caráter desviado do caminho comum. O comum, reduzido ao conjunto de pessoas no mundo em prol de uma única causa, é uma atadura fixa, um antolho, uma mera disposição ao compromisso com o nada. No entanto, se apenas a união de dois egos é impossível, quanto mais de todos.

Assim, o único axioma que garante a atadura fixa em termos mecânicos é o amor. Existe até uma mecânica do amor, que não é especial. Parece contradizer o que o Curso diz acerca do amor verdadeiro, pois obviamente tu já lês julgando. Não esperas sequer as palavras completarem seu sentido. No mundo do tempo, uma idéia vem dividida em partes, fragmentos nomeados como relações entre causas e efeitos. Portanto, uma causa julgada premeditadamente provoca neste mundo todo o tipo de pré—conceito.

O Curso diz: “Podes praticar a mecânica do instante santo e muito aprenderás em fazê-lo. ( T- 15. II. 5:4)”. Como podemos dizer que algo realizado por mim pode ser mecânico, se o que dizes que está destacado de ti não existe, e é mecânico? É verdade que não é possível controlares o comportamento indefinidamente, e a sensação de opressão que este estado causa é intolerável. A aparente infalibilidade das leis mecânicas deste mundo, dos resultados em efeito e causa são patentes na separação e, de certa forma, é o modus operandi dela. Dizemos obviamente nos referindo à percepção diretiva, pois está claro que a matéria questiona-se como criação a nível quântico, se quiseres chegar até o fundo do nada para certificares que o átomo do nitrogênio em Tomé é o mesmo em uma pedra, ou na água, se Tomé fosse corpo e a água existisse.

Estás com medo? É arrogância, então. Ou não acreditas ainda no que o Curso diz. Preste atenção: a mecânica do instante santo vale à pena, mas não pode ser evocada eternamente. Em certo momento, ela precisa ser ultrapassada por um evento unificador, presente em tua memória desde sempre, e que elide os corpos em verdadeira união. Mecanicamente, através do comportamento adestrado, isto é impossível.

Portanto, será útil para ti saber como se dá a mecânica do instante santo. Ocorre de maneira semelhante à mecânica estrutural dos exercícios, através da evocação e entrega, em títulos determinados como princípios indutores da mente certa. Os 365 exercícios do Curso são as bases deste princípio. A repetição deles, isto é, sua aplicação mecânica, farão com que tua mente direcione-se por si mesma no curso correto. É impossível que um indivíduo que tenha feito todos os exercícios do Curso não tenha sido tocado, como o próprio Curso afirma. Ele pode não ter percebido, e acreditar que foi mais um tipo de exercício espiritual ao qual se entregou e falhou. Mas isto não significa que ele não teve benefícios reais. Seu julgamento não é o indicador disto. E se ele abandonou o Curso, como abandonou? Se o Espírito Santo nunca o abandonará? O Curso em Milagres está muito além deste livro que vês.

Assim, antes de julgar a teu irmão, entenda: um amigo que vem para decidir o que é certo, pode ser até que ele mesmo não esteja certo, mas ele é capaz de certeza, pois a certeza não vem dele. No entanto, se ele se disponibiliza, e pratica a mecânica do instante santo, como perderá com isso? Ele ainda não está ciente do que diz, mas se através dele é dito (e muitos acasos que nomeastes coincidências, sincronicidades ou mesmo avisos, são apenas diretivas mecânicas de tua disposição em ouvir a Voz por Deus) mas se através dele é dito, porque apenas tu te beneficiarias? Isso, não tem glória envolvida. Não pode ter, pois o comum parece destacado no mundo, pois todos acreditam que devem chegar até um ápice da separação, e parece um elogio dizer: “fulano é muito incomum”.
Deixemos de lado os meios e vamos ao que interessa: como praticar, no dia a dia de tuas alterações de humor, a mecânica do instante santo? E quais são os proveitos que ela te oferece? Responderemos então estas duas perguntas separadamente, de forma que sejam vistas como uma só.
A mecânica do instante santo é uma disposição. Dispor-se é “estar em posição de”. Portanto, a mecânica do instante santo espera que estejas a postos. Se tiveres raiva por um momento, e não conseguires te livrar desta indisposição, mesmo que a causa da raiva tenha sido esquecida, ou resolvida, significa que não queres a solução de um problema ou “soltá-lo”; queres apenas a raiva, pois não consegues te livrar dela mesmo após o ato que aparentemente a causou tenha se passado. Não é assim? O rancor não pode demorar anos? E não parece justificado pelas leis do mundo? Aquele que errou não tem que pagar caro, e pagar aqui? Essa é a lei que eu vim para desfazer. Em mim, não temas, pois eu te disse que viria se tu te disponibilizasses, e por isso vim. Não me receberás com alegria?

Graças a ti também, quem ajuda a ti mesmo em teus irmãos. Vejamos o que é a loucura da raiva e do rancor. O rancor é a permanência da raiva no tempo, sabemos disto. O que não sabemos é que o rancor visa “estender” a raiva. Como se fosse possível criar com o pressuposto eterno das criações, a raiva “estendida” não pode ser associada a um elemento que a desfaça. Portanto, a solução de um problema nunca é suficiente para aplacar a fúria do ego, pois ele precisa de mais raiva para se manter, e para isso ele precisa sempre te apresentar a ti mesmo como escasso, entendes? Falta algo que alguém te tomou. É justo sentires raiva.

No entanto, o ego não diz que essa raiva tu fabricas “do nada”. Pois se mesmo um motivo que justificasse a raiva fosse embora, e tu ainda mantivesses teu estado mal humorado, por que seria assim? Manténs agora a raiva justificada na falta de algo que já recuperastes? Então, tem que ter algo faltando. Onde está esse algo? Está na confusão que o ego te induziu para crer que te falta algo. Por isso acreditas que tens que ultrapassar alguém nesse mundo. Precisas ser melhor que outro. Falamos anteriormente sobre a educação das crianças e de seu senso induzido à escassez, pela necessidade em adequar-se ao especialismo. Agora, é a mesma coisa, com a diferença que agora quem o faz é uma pessoa “madura”.

Criança de Deus, não há dificuldade aqui. O que estamos dizendo é que a raiva não tem justificativa, mesmo quando parece ter, pois ela é destacada de sua causa exterior, pois no exterior não te falta nada; e é bem verdade que “vieste” para cá sem nada e sem nada daqui retornarás. Dá graças a Deus! Não sabes o quanto deverias agradecer por teu Pai ter te mantido completo, conforme não precisas de nada deste lugar de imagens densas, feitas pedra. Não percebes que tudo aqui é pedra?
Então, o que é a escassez? A escassez é bem uma assombração que teu ego fornece conforme argumentos entre ti e as pedras que te faltam. “Ah! Faltou essa pedra aqui!” “Aquele te tomou uma pedra que era para ser tua!”, “poderias beber mais pedra, se não te faltassem pedras no Banco das Pedras”, e por aí vais à raiva. Banalizar? Pois bem, vejamos o que é banal, então. O Filho de Deus não pode ser banal, pois a Sua importância não existe, pois a importância atinge um limite em Deus, para Quem a importância não tem significado. O que importa então para ti nas pedras? Teu conceito de ti mesmo? O conceito de outros egos? A tua paz interior? Matarias pela tua paz interior? Nesse caso, teu sonho de paz interior é pedra também. E assim surgem os terroristas, e é melhor pararmos por aqui, pois esse mundo já sofreu demais em teus pesadelos.

Eu vim para te dizer que deves parar. Parar significa estender a si mesmo em centro. A ação parece então que está parada. Veja só: um sonho, minha Criança, não pode ter efeitos. Se sonhares com um tesouro e acordares pobre, de que adiantarão os juros? A raiva é um juro, sendo um juramento que fizeste de jamais perdoar, de aceitar o que te acontece como sendo sempre falta, escassez. Assim, mesmo o que é bom nunca é suficientemente bom, está apenas quase bom, ou há o êxtase com o qual tu compras teus sentidos de prazer ou dor, mediante significados de que “agora, sim, está bom”. Ora, agora é sempre a hora do bom, pois o bom é sempre estar em presença do centro em si. Mas este agora não é uma meta, um “agora finalmente”, um agora que surgiu da soma de outros “agoras” anteriores. Então, a eternidade é a soma dos “agoras” felizes? Achas mesmo que a eternidade é feita de escassez, ou esmolas?

Não peças esmolas ao teu ego! Não é isso que tu és. A dureza da lição vem de uma necessidade em relembrar-te que És como Deus Te Criou. Sem escassez nenhuma. Pois quando estás consciente disto, és amado por teus irmãos. O mundo se torna tão bom, que quase parece que é real. Pois o amor “realiza” o mundo para ti, em amor também, pela extensão. Não vale a pena então, mecanicamente, te sentires bem através de uma disponibilidade corajosa? Para isso, tem uma história:

Hoje eu e minha esposa saímos para almoçar em um restaurante. Eu estava indisposto porque me faltara uma pedra. Então, estava com cara de mau, emburrado em ser um cara mau. Isso, no entanto, me dava uma sensação de que eu sabia quem era. Eu era o cara que tinha perdido a pedra. Naquela hora, eu poderia então me referenciar no tempo espaço e dizer: “eu sou um cara mal humorado”, e assim eu estava “sendo”. Eu poderia até me definir, se quisesse. E era isso o que restava de mim como filho de Deus.

Então, no semáforo, percebi que era orgulho manter rancor, mas isso veio para mim porque lembrei em repertório que “Eu Sou Como Deus Me Criou, eu sou livre”. Então, resolvi criar coragem e olhar para minha esposa mesmo com raiva, que nem era raiva dela, mas era uma raiva nos espaços, e olhar para e ela e dizer alguma coisa, tipo: “não quero estar assim, mas estou. Isso é uma verdadeira pedra!” Mas não disse nada. No entanto, um segundo depois, se muito, olhei para ela com coragem em desfazer aquilo que me fazia mal. “Pelo menos, eu posso decidir que não gosto do que sinto agora (T-30. I. 8:2)”. Outra, do repertório benfazejo. Então, apenas olhei para o lado e a vi. Ela olhava para frente, mas de repente virou o rosto para mim e fez um sinal afirmativo com a cabeça, com um único gesto firme. Eu respondi igualmente. E, nisso mecânico, posso dizer que a raiva não se desfez imediatamente, mas não tinha mais a mesma firmeza de antes, e dali a pouco eu estava bem. Eu não perdoei a raiva que tinha, eu perdoei a falta que eu pensava que em mim havia. Então, aprendi que coragem é um ato de querer se livrar do que não presta. E sentir-se mal não presta.